A neutralidade da rede e a idéia de uma Internet aberta têm estado no centro de debates controversos nos últimos tempos. Tem sido uma questão confusa e que permanece perplexa até hoje. Descrevi o que aconteceu na semana passada, alguns dos problemas inerentes ao atual sistema de banda larga e resumi a proposta do Google e da Verizon, anunciada na segunda-feira. Espero que isso apague parte da confusão que existe. Vamos mergulhar nele depois do intervalo.
Na semana passada, o New York Times publicou uma matéria que sugeria que o Google e a Verizon haviam concordado com um acordo que permitiria à Verizon priorizar o tráfego da Internet com base em quem pagou mais. Obviamente, isso incomodou muitas pessoas e foi contra a web aberta que o Google e a Verizon disseram que sempre defenderam. Os dois se manifestaram publicamente contra o artigo, dizendo inflexivelmente que as informações eram falsas.
Pode ter sido planejado já ou devido à histeria na semana passada, mas o Google e a Verizon realizaram uma teleconferência na segunda-feira com meios de comunicação descrevendo uma proposta que eles apresentaram à FCC sobre neutralidade da rede. Sua proposta pede uma Internet aberta sustentada que seja possível com certas mudanças de política e um papel cada vez maior da FCC.
O principal problema: os provedores de serviços de Internet privados (ISPs) desejam discriminar determinados tráfegos da Web e fornecer mais banda larga a outros. A maneira como eles decidem isso pode ser por preferência pessoal, quem paga mais ou por sufocar a concorrência. Obviamente, isso é uma coisa ruim e ninguém quer que isso aconteça.
Existem duas soluções para este problema:
- Permitir que a concorrência force as empresas privadas a mudar
- Deixe a FCC regular a indústria
Idealmente, o primeiro parece ser um bom plano. Mais ISPs reduzirão os preços e forçarão mais transparência, além de melhorar tudo para o consumidor. No entanto, existe uma falha fatal nesse plano: a concorrência é praticamente inexistente nesse setor. Existem outras opções para acessar a web (satélite, discado, etc …). No entanto, se você deseja acesso em alta velocidade, é mais provável que esteja preso a qualquer provedor que tenha o monopólio em sua área.
E o plano número 2? A Internet sempre foi uma indústria aberta que prosperou com pouca ou nenhuma regulamentação. Muitos temem que, se a FCC começar a regulá-la, encontrarão maneiras de continuar regulando e, eventualmente, acabaremos com um espaço super-regulado que não promove a inovação. Entre os monopólios do ISP e a regulamentação da FCC, parece que estamos entre uma rocha e um lugar difícil.
Google e Verizon têm conversado bastante e fizeram uma longa proposta à FCC, convidando certos regulamentos.
Aqui estão alguns dos principais itens da proposta:
- Sua proposta tornaria aplicáveis os principais elementos dos princípios de abertura da Internet, o que significa que os ISPs são obrigados a permitir que os consumidores usem os aplicativos, serviços e dispositivos que escolherem.
- Eles sugerem que, além dos princípios já estabelecidos, deve haver outro, que também estará sujeito à aplicabilidade. Isso se refere a práticas discriminatórias (os ISPs não poderiam priorizar um tráfego da Web em detrimento de outros)
- O terceiro item proporcionaria maior transparência e produziria uma base maior de consumidores com conhecimento. Exigiria aos ISPs que fornecessem informações claras e compreensíveis sobre seus serviços e regulamentos
- Quarto, sua proposta criaria um novo mecanismo de aplicabilidade para a FCC. A agência decidia disputas caso a caso e seria orientada por reclamações
- Uma quinta parte da proposta envolve o incentivo de que os provedores de banda larga entrem em outros setores, como o que a Verizon fez com a FIOS TV.
- Sexto, a maioria das propostas não se aplica ao mundo sem fio. De fato, exigiria que o Escritório de Prestação de Contas do Governo fornecesse revisões anuais do estado atual da banda larga sem fio, para determinar se esses princípios precisam ser aplicados no espaço ou não.
- Sétimo, eles apóiam a reforma do Fundo Federal de Serviço Universal, a fim de permitir que mais pessoas se conectem à Internet
Imediatamente após a teleconferência e, desde então, jornalistas e blogueiros estão atacando violentamente os dois gigantes.
Confira estas peças para mais análises:
Jeff Jarvis: “Internet, Schminternet”
Stacey Higginbotham (Giga Om): "Empresas de tecnologia, o Google esgotou"
Larry Downes (CNET): “O que a proposta do Google-Verizon realmente diz”
Eric Schmidt e Ivan Seidenberg (Google e Verizon): "Do Google e da Verizon, um caminho para uma Internet aberta" http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2010/08/09/AR2010080905647. html? noredirect = ativado
Por que eles estão recebendo ataques tão veementes? Simples: eles querem diferenciar o tráfego da Web com e sem fio. Suas propostas visam as linhas de cabo rígido, para que os provedores de banda larga não possam discriminar. Eles dizem quase nada (exceto a revisão anual) sobre redes sem fio, o que leva muitos a acreditar que gostariam de ver o tráfego prioritário na web sem fio. Tal ação seria como um ato de traição, muitos acreditam, pela própria empresa que afirma defender abertura. Vamos continuar monitorando a situação e os desenvolvimentos, que temos certeza de que haverá muitos.
Espero que isso esclareça parte da confusão. O Google e a Verizon estão tentando manter uma Web aberta, mas obviamente fizeram sacrifícios por ela (como a proposta de aumentar o poder da FCC e excluir o tráfego sem fio). Naturalmente, alguns vão adorar e outros vão odiar. Seja qual for a sua opinião, decida-se quando tiver todos os fatos corretos, e não alguns boatos que circulam pela web aberta. Encorajo-vos a ler o máximo que puder sobre o assunto, pois é uma das questões tecnológicas mais importantes do nosso tempo.